terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um conto de Natal?




Nascimento e morte do cordeiro




Familiares e amigos brindam mais uma noite de Natal. Abraços, saudações e votos de boa saúde e felicidade são divididos entre todos. A alegria contagia o ambiente. Presentes trocados, papéis de embrulho rasgados, sorrisos estampados nos semblantes de todos os convivas. Afinal, Natal significa natalidade, nascimento, nascer. Nasceu Jesus, o Salvador.

De origem pagã, ou não, prevalece hoje o sentido religioso da data. Costumes populares foram adotados: músicas natalinas, festas de igreja, enfeites decorativos, árvores de Natal, pisca-piscas, guirlandas, presépios, Papai Noel. E, claro, uma refeição especial não pode faltar.

Naquela família era tradição, em toda ceia de Natal, uma mesa requintada com os mais variados pratos e quitutes. Nesse Natal não foi diferente. O chefe da família, alguns dias antes, determinara o cardápio: - Para este ano, vamos preparar um cordeiro assado.

E foi o que aconteceu. Logo nas primeiras horas da manhã, na véspera de Natal, foi até o cercado onde estavam os animais. Lá, naquele ambiente rústico e singelo, a paz reinava. Para os animais, não há Natal nem outro tipo de festa ou data comemorativa. É sempre a mesma rotina diária. Aguardam a lenta passagem das horas, os banhos de sol, a distribuição da ração, a soneca do fim de tarde. À noite, juntam-se, encolhidos, os pequenos se escondem sob a proteção das patas da mãe. Todos aguardam o surgimento de mais uma alvorada.

Trouxe consigo um pequeno cordeiro, de mais ou menos uns 30 quilos, 7 meses de vida, do tamanho ideal para a receita a ser preparada. O cordeiro bem que gritou, esperneou, mas de nada adiantou. A mãe, em uníssono com o filho, balia o mais que podia, mas ninguém ouvia. Dali a poucos minutos ele já soltava o seu último gemido. Dizem, e não se sabe o porquê, que, no mesmo instante de sua morte, a cortina que enfeitava o oratório, que fica em uma das paredes da sala, rasgou de ponta a ponta.

Chegou o momento do brinde. Todos erguem as taças e celebram a vida. Como a Providência foi boa para com eles, dizem uns aos outros. Não questionam, e não tem intenção nenhuma de questionar, a si ou ao outro, sobre os costumes e as tradições, sobre o certo e o errado, sobre a vida e a morte. O que importa, somente, é muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.

No pequeno redil, a ovelha estava quieta. Cansada de procurar pelo filhote, deitara sobre a pouca palha que forrava o chão. Não tinha mais forças para balir. Cabia-lhe, somente, resignar-se e aceitar. O Natal não fora feito para todos. Não para os animais. Embora alguns deles tenham presenciado o nascimento do Cristo e dividido com Ele os mesmos aposentos, nunca passaram de objeto de mercancia.

Não devemos, por isso, responsabilizar o Mestre Nazareno. Afinal de contas, a missão Dele era outra. Ele deve ter pensado que de nada adiantaria pregar amor pelos animais, se os homens não conseguiam amar nem os da própria espécie. Talvez, se um dia Ele voltar por estas paragens e fizer um adendo ao seu famoso Sermão, acrescentando uma nova boa-nova, e, lógico, não deixando de ser bem enfático sobre a importância do respeito aos animais, quem sabe aí a situação possa melhorar para os nossos irmãos não-humanos.

Bem-aventurados os que não comem, não maltratam e nem exploram os animais, porque serão chamados filhos de Deus, herdarão a Terra, alcançarão a misericórdia, serão fartos, serão consolados, terão paz eterna, verão a Deus e deles será o Reino dos Céus.

2 comentários:

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